terça-feira, novembro 13, 2007

Outro ano já se foi...

...e aqui, com esta última postagem aí embaixo, me despeço dos poucos leitores. Fim de ano é inviável escrever qualquer coisa – pago todos os pecados de vagabundagem que cometo durante todo o ano. Deus nos guarde e nos mantenha firmes no verdadeiro Evangelho de seu filho. Bom natal e feliz reveillon! Até Março.... fui.

Marcelo Belchior

Minha avó, sua certeza e o
apostador insensato.

Não mais tenho avós paternos. Há uma semana, me despedi pela última vez da minha avó. Domingo à noite, mais uma vez sentiu-se mal, mas preferiu sofrer as dores calada, não obter socorro e ir ao encontro do seu Senhor. Vovó era a madrasta de meu pai – cuja mãe morrera quando ele ainda tinha 12 anos de idade – foi a mulher que conheci como companheira de meu avô e mãe dos meus tios. Minha avó de fato. Era crente do tipo carola, com direito a coque, saião, Bíblia debaixo do braço e cabelo sem corte. Seu humor e sua fé eram ímpares.
Ontem, ao perder o sono no meio da madrugada, não consegui parar de pensar numa frase inquietante de um tio naquele funeral: "Quando morrer não quero nada disso. Me enterrem e pronto. Não creio em nada depois da morte". A comparação que me tirou o sono foi inevitável: de um lado, uma mulher de 73 anos que se deixa morrer motivada pelo cansaço da vida, quiçá também pela solidão, mas também pela sensação do dever cumprido e pela certeza absoluta do seu destino pós-morte. Fiquei imaginando como deve ser sentir o coração parando e manter o silêncio, esperando ser tirado da única realidade que se conhece. Essa completa ausência de pavor diante do desconhecido é no mínimo inspiradora... mas, do outro lado, tenho um tio dizendo crêr na inexistência. Que aposta suicida! Se não existe nada no pós-morte, nada se ganha, mas também nada se perde. Se existe reencarnação, também nada se perde, mas, sendo o Evangelho de Cristo a única verdade, as perdas são imensas e as fichas que se vão são irrecuperáveis para quem em Deus não empenha sua vida. Se Evangelho é uma filosofia apenas, então é de todas a mais cruel, pois fora dele ninguém se salva da morte. Então a pergunta que não consigo parar de fazer é: por que apostar a vida numa jogada em que a derrota e o vazio da inexistência são a única certeza e garantia? Certamente meu tio não se permitirá morrer sem uma agonizante luta pela única vida que crê existir. O pavor, o terror e o suor frio lhe estão garantidos. Penso como Pascal: eis a insensatez em sua mais palpável forma.

terça-feira, setembro 11, 2007

Moedinha



Clique na imagem para ampliar.
A justiça paulista determinou que uma denominação evangélica devolva R$2mil, acrescidos de juros e correção monetária, a um fiel que se arrependeu de fazer uma doação.
O crente diz que foi induzido pelo pastor que prometeu que, pela tal oferta, Deus iria abençoá-lo financeiramente, mas que se ele se recusasse o diabo iria tirar o pouco que lhe restava.
O precedente está lançado e qualquer um que se sinta lesado pelos mesmos motivos, sob os mesmos argumentos, pode pedir na justiça seu dinheiro de volta. Caso Deus não cumpra sua parte no acordo comercial firmado por seus representantes, que chegam a prometer 10.000% de rentabilidade às ofertas - o famoso cem por um - processe-o!
O que estão vendendo é um Deus mercadológico de escambo religioso. É umbanda gospel, na qual a entidade espiritual torna-se refém de interesses mesquinhos, mediante um despacho em moeda corrente. Se não funcionar, desfaça o negócio. É justo.
Infelizmente sei que não vai haver um estouro de boiada rumo aos tribunais. Este é um caso isolado. Não vai haver uma enxurrada de processos semelhantes simplesmente porque a maior aliada dessa liderança evangélica não é a promessa de prosperidade, mas, sim, a ameaça de destruição. Funciona sempre da mesma forma: se você não pagar o que deve a Deus, ele vai soltar seus rottweilers cobradores, seu SPC e SERASA, também conhecidos como gafanhotos devoradores, migradores, cortadores... O medo não só garante a arrecadação como também inibirá outras ações nos tribunais. Deus é mau! Cuidado com ele.
O golpe só será sentido por essas instituições gospel-bancárias no momento em que o gado começar a notar que Deus abençoa e guarda por causa do seu amor e fidelidade, e não porque sua graça e misericórdia têm preço. Quando as mentes desembotarem, haverá abalo nos cofres das denominações que apoiaram a sobrevivência de suas instituições no medo e na ignorância, em vez de no amor e na verdade. Dois mil reais, por enquanto, é moedinha.

terça-feira, setembro 04, 2007

Monogamia: novos argumentos,
velha discussão

O Mito da Monogamia é o título que chegou às prateleiras brasileiras no início do mês de agosto e que, desde o ano passado, nos EUA, vem botando lenha nova num braseiro aceso desde o início da humanidade. O casal monogâmico David Barash e Judith Lipton tentam atestar, por meio de sérias pesquisas científicas, que o casamento não passa de uma união de fachada para a maioria dos seres humanos. Segundo os autores, os homens são polígamos por natureza e as mulheres naturalmente infiéis.
O argumento biológico em favor da multiplicidade de parceiros não é novo, mas nas páginas deste livro ganhará força pela amplitude das pesquisas no reino animal em diversos espécimes, desde macacos a moscas. É claro que não esqueceram de adicionar às páginas os argumentos antropológicos sempre citados pela classe literária mais culta, da comodidade e da conveniência das sociedades modernas na gestão de bens e na criação de filhos como sendo os principais motivos para a sustentação do modelo monogâmico.
Agita-se os ingredientes e sai aí mais um campeão de vendas que fomenta a mídia, movimenta o mercado, evidencia os autores, municia mentes fracas, alivia a culpa dos adúlteros e anima os papos de botequim.
"Os infantes têm a sua infância. E os adultos? O adultério." Não é a primeira vez e nem será a última em que ouviremos atrocidades como esta em favor do desmantelamento progressivo da instituição do casamento como conhecemos hoje, mas, com certeza, o que sistematicamente se faz é ignorar que a argumentação da comodidade socioeconômica como fundamento de "uma utopia", esbarra no fato de que em séculos anteriores, em todas as culturas, a poligamia foi a melhor e mais coerente forma de união conjugal por causa dos perfis políticos, militares, econômicos e diplomáticos que possuíam. Raríssimas vezes esses relacionamentos fundaram-se sobre o amor entre os cônjuges que de forma alguma se escolhiam. E isto era relativo apenas às camadas mais altas das sociedades - pobres nem casavam-se. Ignora-se o fato de que a mulher era, e ainda é em muitas culturas orientais que sustentam a poligamia, vista como propriedade de seu marido. Foram as evoluções cultural, intelectual e religiosa, esta última pelo Cristianismo, que amplificaram o feminino grito de liberdade e que aplainaram a estrada da monogamia ainda no primeiro século AD. Foi justamente a liberdade, não a comodidade e a conveniência, que deu poderes ao amor exclusivo e exclusivista entre homens e mulheres.
Os novos argumentos biológicos são, no máximo, curiosos. Comparar a complexidade dos relacionamentos humanos à cópula de moscas e ao bacanal de primatas é tão tosco quanto tentar justificar infanticídios ou várias outras selvagerias humanas pelo mesmo argumento de similaridade.
De verdade, não há nada de novo nessa novidade científica e literária. A Bíblia, há mais de 1900 anos, afirma que, biologicamente, somos não somente adúlteros, políginas e poliândricas, como também homicidas, ébrios, egoístas, invejosos e coisas semelhantes. Mostrar, portanto, que tudo isso é inerente ao ser humano não tornou nenhuma dessas características agradáveis ou mesmo socialmente aceitáveis durante todos esses séculos.

"Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo." Efésios 5.28

terça-feira, agosto 28, 2007

Kant e a cafeteira do Jornal do Brasil

Conta-se dos tempos áureos daquela redação de um funcionário que viu uma incrível máquina de café. Maravilhado, afirmava que a cafeteira não somente fazia o café como também servia o copo, o adoçante e que ainda punha a colherzinha para que o café fosse agitado. O pobre homem sofreu durante anos com o menosprezo dos colegas que, com muitos risos e piadas, o desmentiam... Na década de 70, o JB adquiriu um modelo da tal cafeteira, mas o mentiroso já não fazia parte da equipe. Não houve tempo para retratações.

"De modo que para afirmar que algo existe não é suficiente ter a idéia deste algo, mas, ademais, há de se ter a percepção sensível correspondente; tê-la ou poder tê-la. É assim que de Deus não temos e não podemos ter a percepção sensível correspondente; logo não podemos, em virtude de sua idéia, afirmar sua existência." Immanuel Kant (1724-1804)

Foi exatamente esse o argumento utilizado para ignorar a existência de algo concreto e palpável para qualquer um de nós nos dias de hoje. Se não há percepção de forma alguma, então atribui-se inexistência. A incongruência está no próprio relativismo de Kant, que afirma que tudo é relativo às percepções pessoais.
No pequeno exemplo do JB, o erro foi desconsiderar o testemunho do amigo, uma vez que a existência da cafeteira era relativa somente à experiência daquele que vivenciou algo diferente e distante daquele universo. Num caso mais amplo, o erro do próprio Kant também foi desconsiderar o testemunho daqueles que estavam distantes, não no espaço, mas no tempo muito anterior ao dele e ao nosso.
David Hume afirmou que nossas percepções sensíveis são nada mais que nossas e que não lhes correspondem nada fora de nós. Kant, que influenciou-se muito por sua literatura, prendeu-se somente à “percepção” e esquecendo-se desta “relatividade”.
Talvez para ele não tenha sido possível, como também não será para muitos dos que crêem exatamente como ele, retratar-se ao finalmente perceber que a imperceptível cafeteira existe mesmo.

"Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os [sem percepção] que não viram e creram." João 20.27-29

quarta-feira, julho 25, 2007

Que se dane!

É, eu preciso dizer mais isso, sabe? Importo-me demais com coisas ridículas. Que se dane a opinião alheia. A partir de agora quero não mais perder oportunidades de dizer escrachadamente "eu te amo" para quem amo mesmo. Que se dane se vou me tornar chato ou correr o risco de vulgarizar as tais palavras de amor - não tenho compromisso nenhum com palavras. Tenho, sim, comigo. Vou dizer que amo não por causa de quem é amado. Vou dizer por causa de mim, por egoísmo mesmo. Somente para minha gratificação, para meu próprio deleite quero abraçar e beijar os meus.
Quero ligar mais para dizer abobrinhas. Quem sabe até enviar e-mails bobos para os que me são caros demais. Que se dane se alguns vão me achar meloso e outros farão chacota, até porque, possivelmente, é exatamente por essa característica que os amo.
Que se dane o natal, o ano novo, a páscoa, os aniversários e quaisquer outras datas festivas. Eu vou é tirar proveito de qualquer situação para dizer aos meus familiares, amigos e até aos colegas de trabalho que eles são importantes para mim, que preciso muito de cada um deles e que se por qualquer motivo não vê-los mais, vou sentir muita falta. Quem sabe dessa forma não me sinta tão roubado no coração se me separar de quaisquer deles.
Quero falar mais, e mais abertamente, do Evangelho de Cristo. Falar que Jesus está vivo, sim, e que é verdadeiro. Que é o único mediador entre Deus e os homens que se sacrificou em nosso lugar, que seu sangue lava todos os nossos pecados, que nos ama individualmente e quer ser o melhor e mais fiel amigo e Senhor de cada um de nós. Farei isso não com aquele nobre e elevado intuito de cumprir a missão de pregar o Evangelho, mas por mim mesmo, para que eu alcance o privilégio, o prazer e a alegria de, onde eu estiver, ter todos eles sempre perto de mim. Tudo movido por egoísmo. Paulo disse que importa é que seja pregado.
Vou dizer para os meus irmãos, os de ventre e os de sangue, que mesmo que eles me desapontem, mesmo que discorde deles, mesmo que me entristeçam e até mesmo se nos desentendermos, acima de tudo, eles são meus irmãos e eu não abro mão de nenhum deles. Com humildade pedirei que façam exatamente o mesmo por mim e que tenham sempre muita paciência comigo porque sei exatamente que tipinho de gente eu sou.
Se meu comportamento causar estranheza, que se dane! Insistirei em amar e não mais abster-me em demonstrar o quanto sou carente dos meus.

"Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados!" (Fl 4.1)

quinta-feira, julho 19, 2007

Eu não me preparei



"Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, quer vivamos quer morramos, somos do Senhor." Romanos 14.8

Amo você, maninho. Mas não te disse isso. Achei que o teria sempre ao alcance de, ao menos, um telefonema. Esperei tudo, até que você reagisse com partidarismo quando me visse de novo – e eu entenderia –, só não esperava que o Senhor te recolhesse tão cedo. Perdi meu tempo achando que te veria ainda muitas vezes, meu irmão, ainda que de longe. E só de te ver bem, eu já me daria por contente, afinal foi sempre assim que eu agi. Não me dei tempo para simplesmente pegar o telefone e dizer: "e aí, mano velho! que saudade, cara! você me faz falta." Faltou dizer que amo você pra caramba, meu amigo. Faltou dizer que aprendi muito com você. Faltou te abraçar e te dizer que você é importante pra caramba. Eu errei. Cometi o mais tolo dos erros: achar que todos temos todo o tempo do mundo. Vai ficar tudo entalado na garganta até o dia em que, diante do Senhor, eu te veja de novo. Até breve, Moysés.

terça-feira, julho 17, 2007

"Meu sonho de consumo não
vai me consumir"

Seja feliz num carro X! Peça já o seu cartão Y Platinum! Venha para o Residencial Z e descubra o prazer da vida! Compre! Possua! Ostente!
O vencedor, o que alcança sucesso, é aquele que trafega num carro de luxo, que tem talão de cheques exclusivo do banco que só aceita ser chamado de bank, que mora num desejável bairro, num imóvel caro e mobiliado com tudo que tenha botões luminosos, detalhes cromados ou acabamento em aço inox escovado. É dessa forma que assimilamos, diariamente e por todos os poros, que a felicidade consiste no prazer dos bens. A massificação é tanta que mesmo uma mente consciente pode falhar e permitir que as emoções sejam tomadas.
Acabei de ler "Bens e bênçãos" em Ponto Final, coluna de Rubem Amorese, em Últimato, e pude notar que não sou o único ingrato incitado pelo mundo à insatisfação pelos desejos de aquisição não realizados. Basta deixar levar-se pela carne um instante, e logo agimos segundo o curso deste mundo, tornando-nos insensíveis às muitas bençãos de Deus. Rapidamente esquecemos da grandeza que há na companhia dos amigos, dos irmãos, e da mulher e filhos com quem dividimos os dias. Perdemos o prazer no teto sob o qual dormimos em paz, na comida à mesa, na água limpa para se banhar e beber, nas roupas limpas, na profissão, emprego e salário conquistados; na lua, nas estrelas e na aptidão dos olhos em vê-las; nos dias de sol ou de chuva que refrescam as ruas nas quais podemos andar e correr livres de correntes, muros ou carcereiros.
Na verdade, meu irmão Rubem, eu também cochilei, mas acordado pela comunhão contigo, pude lembrar que o coração do ganancioso desfalece por aquilo que não tem, mas coração do sábio se alegra na esperança e na gratidão.

"Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13.5

O título é trecho da música “Meu verso tem poder” – Pregador Luo

segunda-feira, julho 09, 2007

A vida é assim - Parte 5


Pr. Ricardo Gondim - Você vai morrer!

sexta-feira, julho 06, 2007

Republicando

"Amigo, a que vieste?"
Certamente, como os demais, atendeu prontamente o chamado do Mestre. Andou junto, comeu junto, viveu junto e tinha muito em comum. Judas Iscariotes foi chamado de amigo, tratado como amigo e foi, sim, amigo de Cristo.
A ele foi confiado o dinheiro que mantinha o ministério de Jesus – e desfaçamo-nos do comum engano: Jesus não era pobrezinho e seu ministério não custou barato. Judas lidava com boas quantias e o amor ao dinheiro foi seu tropeço. Os pequenos furtos às reservas ministeriais tornaram-se insuficientes e as falhas tornaram-se traição. A ganância o consumiu e tragou-lhe a fidelidade.
Foi amigo mesmo e, dando-se conta do mal que cometera, não resistiu e enforcou-se, cometendo aí seu maior e verdadeiro erro: entregar-se ao remorso em vez de buscar o legítimo arrependimento. Em poucos dias, havendo o amigo ressuscitado, teria alcançado o perdão que, entretanto, somente Pedro recebeu.
Muito cedo, ensinaram-me óbvia mas importante lição de vida: só os que lhe são caros, são capazes de ferir-lhe a alma. Inimigos não decepcionam e não traem. Fazem apenas aquilo que deles esperamos. São as pessoas que amamos que nos machucam, nos ferem e nos fazem chorar dolorosamente. São os amados que nos dão ou tiram o prazer e o desejo pela vida.
O outro é sempre um imprevisto, e isto torna caro cada minuto investido num relacionamento. Todo passo dado na mesma direção ata vidas por meio da cumplicidade, do alvo mútuo e da partilha das conquistas. Cada instante dividido faz a alma ceder espaços até o ponto de misturar as personalidades, os gestos, pensamentos e convicções. É por todas estas razões que não há relacionamentos sem dores. Se "amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito", qualquer disfunção não sanada mata. Sua feridas sangram até morte ou cicatrizam-se pela reconciliação –um bálsamo exclusivo do arrependimento e do perdão.
Do arrependimento - porque este clama incessantemente pelo perdão e torna viável a aceitação daquele que falhou; oferece à cicatrização a confissão e abandono do erro, distinguindo-se sobremaneira do remorso, que gera vergonha, fuga e tormento, anestesia as emoções, impossibilita o choro e não impede a reincidência. Arrependimento é a semente que gera vida onde, sob quaisquer outros aspectos, só havia possibilidade de morte.
Do perdão - porque este é a capacidade sobre-humana do amor de não considerar o dano em prol da reintegração, reinserção e reatamento. É o ensino de Cristo registrado em Lucas 6.29: desconsiderar a ofensa a ponto de pôr-se em risco de sofrê-la outra vez. Diante de um legítimo arrependimento, perdoar não é uma opção, mas um mandamento que nos aproxima de Deus e nos viabiliza também seu próprio perdão.
A reconciliação é, desse modo, o fruto natural do arrependimento que encontra o perdão. É o milagre que faz o cristal outrora quebrado novamente íntegro, que zera dívidas, apaga mágoas e lança os erros no mais distante passado. É ela que veste com a melhor roupa, põe o anel no dedo e as sandálias nos pés.

Amigo, te agradeço por me conduzir ao arrependimento e me ofertar, todas as manhãs, o teu grande perdão. Irmãos, me amem e sejam pacientes comigo. Eu preciso de vocês.

"E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas". Mateus 6.12-15
Marcelo Belchior - 12.2005

sexta-feira, junho 29, 2007

Tem pai que é cego

"No meu tempo, quando um rapaz tinha a oportunidade de sair com um carro, era para paquerar as garotas - elas adoravam um passeio, e a privacidade para braços e abraços era incomparável. Agora, os garotões-dos-papais têm carro para botar mais 4 machos da espécie dentro e sair por aí batendo em mulheres."
Sábias palavras de Utahy Caetano, meu editor-chefe.

terça-feira, junho 05, 2007

Infinita Aquarela


Clique para assistir o vídeo
Vídeo original dos sites www.mundodacrianca.com / www.laboratoriodedesenhos.com.br

Aquarela é sem dúvida uma das músicas mais bonitas da MPB e uma das composições mais felizes de Vinícius e Toquinho. A letra incita uma identificação imediata com a narrativa logo na primeira estrofe. Quantas vezes já desenhamos um sol amarelo e fizemos casas e castelos? Quem nunca tentou os riscos de um belo e azulado céu com gaivotas e, no mar, um grande barco a velejar? Quantos aviões de todas as cores e formas já fizemos para nós e nossas crianças? Esta canção é mesmo belíssima e sua linda melodia dificulta a percepção de um triste final – a vida descolorirá.
A doce voz de Toquinho embala uma letra cheia do vazio existencial do homem sem Deus. O futuro, o amanhã, é incerto e poderá impiedosamente trazer dores. Não há esperança no porvir, e tudo de mais belo e puro que a vida tem um dia se perderá na incolor inexistência.
Não, Toquinho! Não, Vinícius!
O nosso grande erro é tentar pilotar essa tal astronave. Isso, sim, não nos cabe, porque não somos capazes de sozinhos desviar da rota do pecado, o tal muro em que todo menino e menina chega. E é ele, o pecado, que entra sem pedir licença e sem piedade muda nossa história, sempre nos convidando a chorar - jamais a rir. O criador de todas as coisas, no entanto, nos traçou um melhor e mais excelente plano de voo.
Permitamos que Cristo comande nossas vidas, que em suas mãos estejam nosso presente, passado e futuro, pois nele está toda a esperança da humanidade. Nele, os dias mais terríveis resumem-se em leve e momentânea tribulação, e as alegrias e prazeres revelam-se ínfimos diante da glória que nos propõe.
Permitamos que o filho de Deus seja o piloto da astronave para que a linda passarela nos ligue à morada daquele que em muito amor nos gerou e não à incerteza monotônica da morte eterna.
Sim, Vinícius! Sim, Toquinho! Nós sabemos bem ao certo onde vai dar nossa estrada. Quando lá chegarmos, tudo ganhará novos tons mais vibrantes e alegres, pois ele é a luz – fonte de todas cores. Em Cristo a vida nunca descolorirá.

"Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8.12

Marcelo Belchior – 06/2007

quarta-feira, maio 16, 2007

Se os seus olhos forem bons

Em Mateus 6.22,23 e em Lucas 11.34, os contextos são distintos, mas a mensagem é única. Olhos bons possibilitam uma visão correta em cada momento da vida, fornecem a capacidade de enxergar o valor daquilo que se possui, de ver as coisas e as pessoas como elas realmente são. Olhos maus embaçam até os dias bons, distorcem valores e atribuem falsas percepções a respeito das pessoas que estão diante de nós, e, particularmente, é este último ponto que mais me atrai: a forma como enxergamos os relacionamentos. Se os fariseus tivessem olhos bons, conseguiriam enxergar que tinham diante de si o tão esperado Messias de Israel, sem a necessidade de mais nenhum sinal miraculoso.

Bons olhos são determinantes na forma como enxergamos os outros. A batalha de I Samuel 17.48 foi decidida na forma como se viram um ao outro. Quiçá Golias escapasse com vida se não tivesse olhado com desprezo para seu oponente. Davi viu no gigante filisteu, terror dos homens de Saul, apenas um grande alvo desprotegido e enganado por seus falsos deuses.
Olhos acurados também poderiam ter evitado a expulsão de Jefté da casa de seu pai e a posterior humilhação em ter que trazê-lo de volta. O olhar altivo dos líderes de Gileade em nada foi útil e Jefté não apenas herdou os bens de seu pai, mas reinou por seis anos em Israel. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e não nos permitimos menosprezar as pessoas. Principalmente os irmãos.

Bons olhos são também determinantes na forma como reagimos à visão que outros têm de nós. Sem eufemismos, talvez Labão imaginasse: Como casarei Lia? Quem se interessará por ela? Mas não importou como parentes, serviçais, amigos e até marido olharam para ela; no fim da história, valeu somente como Deus olhou para Lia. Onde eu e você, talvez maldosamente, veríamos apenas uma mulher feia entregue como peso bônus num casamento, Deus viu a mãe de todas as tribos de Israel, do rei Davi e do próprio Senhor Jesus. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e diante de olhares adversos respondemos também que "...pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano[...] pois quem me julga é o Senhor".

Por fim, bons olhos são determinantes na forma como enxergamos a nós mesmos. A visão correta dos fatos permitiria que Zedequias enxergasse que Deus nunca morou em tendas feitas por homens e que Sua presença já há muito havia se afastado de Israel. Nabucodonosor não somente tomou Jerusalém como também queimou o santo templo no qual o rei e o povo punham sua confiança. Bons olhos também teriam permitido ao tolo querubim guardião perceber a obviedade de que "o servo não é maior que o seu senhor" e seu coração seria livre da soberba causada por seu próprio esplendor. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e não nos atribuímos valor maior do que possuímos para que também não ouçamos que somos "um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu".

Há muita deficiência entre nós na forma com que relacionamo-nos. Sim, eu creio que fomos tocados pelo Senhor, mas, como o cego em Betsaida, ainda vemos "homens como que árvores andando" e precisamos que sobre os nossos olhos Ele nos toque mais uma vez.
Dá-nos bons olhos, Senhor. Precisamos ver o mundo, os fatos, os dias e as pessoas como o Senhor vê.

"Perguntou ao cego: Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja". Marcos 10.51

Marcelo Belchior 05.07

sexta-feira, abril 13, 2007

Valeu, Senhor!

Valeu a pena... valeu cada instante até aqui.
Valeu a pena ter vivido dias que não quero nunca mais viver.
Eu percebo que foi bom tomar uma surra dos meus pais cada vez que desobedeci ou "aprontava das minhas"; aprendi a respeitá-los, a amá-los, a seguir as regras e saber que meus direitos e desejos têm limites. Foi bom viver uma pré-adolescência introspectiva; foi nela que descobri que o Senhor entra onde ninguém mais pode entrar e que nunca me deixa sozinho.
Foi bom ter casado muito cedo, Deus; o Senhor me livrou da minha delinqüência, da soberba e presunção juvenil, salvando minha vida.
Foi bom experimentar uma crise existencial; por causa dela que eu te busquei de verdade, e te achei. Eu nasci de novo.
Foi bom sentir dificuldades em me "derramar" diante do Senhor; aprendi que tua Palavra é verdadeira – se o Senhor falou que está comigo todos os dias é porque está, independente das minhas sensações.
Valeu viver decepções dentro da igreja; aprendi que todos erramos e todos precisamos da tua misericórdia. Valeram os dias de letargia e desânimo; percebi o quão palpável é a tua Graça e que tua mão nunca se recolhe de sobre minha cabeça, que meu comportamento, meu dinheiro, minha liturgia e religiosidade não te atraem, mas, sim, o sangue do teu Filho sobre mim.
Valeu, Deus! Valeu o desapontamento; eu descobri novos e melhores rumos institucionais.
Valeram as dores, pois elas me fizeram crescer na tua direção; valeram as fraquezas e debilidades, elas me ensinaram a te buscar com mais zêlo e mais força... valeu tudo, Senhor, e vai valer sempre se no final eu encontrar os teus braços.
Que as tristezas e alegrias me conduzam sempre na tua direção, meu Deus. Eu só tenho motivos pra te amar.

quinta-feira, março 29, 2007

Justiça

Fábio Teixeira
Todos clamam por justiça. Não é possível tanta impunidade. Não é aceitável que nossa terra tão garrida e mãe gentil tenha se tornado, irremediavelmente, uma madrasta no sentido waltdisneano da palavra, privilegiando seus enteados de caráter corrompido e matando seus inocentes filhos de fome e sede de justiça.
Este nó na garganta não pode ser desatado pelas unhas do esquecimento e da omissão egoísta que nos dá a impressão de estarmos blindados contra o mal. A justiça exige uma ação corretiva para todos os que maculam a ordem social. Nós, brasileiros, exigimos justiça. Com gosto de sangue na boca, punhos cerrados, coração ferido e um ar de desencantamento pelo atual estado de saúde da pátria, que insiste em não se deixar medicar.
Triste é a realidade.
Deus é justo e justificador. Mesmo diante das infâmias humanas Seu amor renova-se a cada manhã. Olhando pra este amor ainda podemos ver a esperança. O Sol da Justiça raiará, um Reino de justiça haverá, Cristo voltará. O Justo Juiz julgará a todos, grandes e pequenos, opressores e oprimidos, fortes e fracos. Nesse dia nada justificará os injustificáveis, nenhum dinheiro sujo limpará as roupas sujas da iniqüidade de ninguém. Diante Dele não há propina, não há mentira, não há cara de pau, pois Ele nos enxerga de todo. Neste dia o joio e o trigo serão de fato separados e os que têm sede e fome de justiça serão saciados.
O dia da vingança de nosso Deus há de vir.
Saúde e paz.

Original de www.menteiluminada.blogspot.com

quarta-feira, março 14, 2007

Dois tiros

Não, não é a mais um caso carioca que me refiro, mas aos dois últimos polêmicos tiros da igreja católica. O mais recente foi disparado pelo sumo-pontífice romano: "segundo casamento é uma praga social". E é mesmo.
Babo de inveja da coragem demonstrada por este líder religioso ao lançar-se no caminho oposto de inúmeras sociedades para reafirmar valores cristãos da instituição que dirige, sem nenhuma chance de negociação ou "jogo de cintura". Uma pena que líderes evangélicos não sejam tão firmes. Não somente aceitam, como também vivem múltiplos casamentos.
A Bíblia admite o divórcio somente porque nossos corações são duros, mas quanto ao casar-se de novo é bem clara - trata-se de adultério. Se não dá mais para viver com aquele(a) que outrora era um grande amor, viva só. Ou reconcilie-se. É porventura dura demais para você esta palavra? Então não considere-se cristão, pelo menos não Católico Apostólico Romano. Bom disparo.

O outro tiro foi de Dom Geraldo Majella, presidente da CNBB: "A camisinha faz com que as pessoas façam do relacionamento sexual momentos sem nenhuma conseqüência”. Com isso eu descordo.
O preservativo de latex não estimula ninguém a nada. Independente da distribuição de preservativos, as pessoas estão cada vez mais promíscuas. O resultado é um número cada vez maior de infectados de toda sorte de doenças sexualmente transmissíveis que se penduram no dinheiro público para financiar seus tratamentos médico-hospitalares. Cabe então ao Estado defender os cofres públicos, livrando-nos de custear mais e mais coqueteis de comprimidos.
À igreja cabe apontar o pecado, suas conseqüências, e um novo caminho para o pecador.
Os papéis institucionais são claramente distintos: quando a igreja diz "não use camisinha", ela está dizendo que precisa haver mudança na vida das pessoas; e quando o governo diz "use camisinha", ele está dizendo que não tem como arcar com as despesas de uma juventude desorientada.
O governo sabe que seria ineficaz levantar a bandeira da "moral e dos bons constumes" para conter os gastos do Ministério da Saúde. O que lhe resta é, se não à causa, o combate ao efeito, distribuindo borracha para quem queira.
Quanto a igreja, faz-se necessário a percepção que a mania de catequese é perniciosa. Querer se utilizar do Estado como ferramenta de conversão nos dá trajes de ignorância e hipocrisia, não combate a causa e, muito menos, o efeito. É o tiro que sempre sai pela culatra.

Marcelo Belchior 03.07