quinta-feira, dezembro 15, 2005

A idade, a acuidade e o deboche

Lael - Pai, tem um mosquito perto de você, aí na janela.
Eu - Hum? Não é mosquito não, filho. É sujeira.
Lael - Pai!
Eu - Que é?
Lael - A sujeira voou.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

"Amigo, a que vieste?"

Certamente, como os demais, atendeu prontamente ao chamado do Mestre. Andou junto, comeu junto, viveu junto e tinha muito em comum. Judas Iscariotes foi chamado de amigo, tratado como amigo e foi, sim, amigo de Cristo.
A ele foi confiado o dinheiro que mantinha o ministério de Jesus – e desfaçamo-nos do comum engano: Jesus não era pobrezinho e seu ministério não custou barato. Judas lidava com boas quantias e o amor ao dinheiro foi seu tropeço. Os pequenos furtos às reservas ministeriais tornaram-se insuficientes e as falhas tornaram-se traição. A ganância o consumiu e tragou sua fidelidade.
Foi amigo mesmo, e dando-se conta do mal que cometera não resistiu e enforcou-se, cometendo aí seu maior e verdadeiro erro: entregar-se ao remorso em vez de buscar o legítimo arrependimento. Em poucos dias, havendo o amigo ressuscitado, teria alcançado o perdão que, entretanto, somente Pedro recebeu.
Muito cedo ensinaram-me óbvia mas importante lição de vida: só os que lhe são caros são capazes de ferir sua alma. Inimigos não decepcionam e não traem, fazem apenas aquilo que deles esperamos. São as pessoas que amamos que nos machucam, nos ferem e nos fazem chorar dolorosamente. São os amados que nos dão ou tiram o prazer e o desejo pela vida.
O outro é sempre um imprevisto, e isso torna caro cada minuto investido num relacionamento. Todo passo dado na mesma direção ata vidas por meio da cumplicidade, do alvo mútuo e da partilha das conquistas. Cada instante dividido faz a alma ceder espaços até o ponto de misturar as personalidades, os gestos, pensamentos e convicções. É por todas estas razões que não há relacionamentos sem dores. Se "amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito", qualquer disfunção não sanada mata. Sua feridas sangram até morte ou cicatrizam-se pela reconciliação –um bálsamo exclusivo do arrependimento e do perdão.
Do arrependimento porque este clama incessantemente pelo perdão e torna viável a aceitação daquele que falhou; oferece à cicatrização a confissão e abandono do erro, distinguindo-se sobremaneira do remorso, que gera vergonha, fuga e tormento, anestesia as emoções, impossibilita o choro e não impede a reincidência. Arrependimento é a semente que gera vida onde, sob quaisquer outros aspectos, só haveria possibilidade de morte.
Do perdão porque este é a capacidade sobre-humana do amor de não considerar o dano em prol da reintegração, reinserção e reatamento. É o ensino de Cristo registrado em Lucas 6.29: desconsiderar a ofensa a ponto de pôr-se em risco de sofrê-la outra vez. Diante de um legítimo arrependimento, perdoar não é uma opção, mas um mandamento que nos aproxima de Deus e nos viabiliza também seu próprio perdão.
A reconciliação é, desse modo, o fruto natural do arrependimento que encontra o perdão. É o milagre que faz o cristal, outrora quebrado, novamente íntegro, que zera dívidas, apaga mágoas e lança os erros no mais distante passado. É ela que veste com a melhor roupa, põe o anel no dedo e as sandálias nos pés.

Amigo, te agradeço por me conduzir ao arrependimento e me ofertar, todas as manhãs, o teu grande perdão. Irmãos, me amem e sejam pacientes comigo. Eu preciso de vocês.

"E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas". Mateus 6.12-15
Marcelo Belchior - 12.2005