Em Mateus 6.22,23 e em Lucas 11.34, os contextos são distintos, mas a mensagem é única. Olhos bons possibilitam uma visão correta em cada momento da vida, fornecem a capacidade de enxergar o valor daquilo que se possui, de ver as coisas e as pessoas como elas realmente são. Olhos maus embaçam até os dias bons, distorcem valores e atribuem falsas percepções a respeito das pessoas que estão diante de nós, e, particularmente, é este último ponto que mais me atrai: a forma como enxergamos os relacionamentos. Se os fariseus tivessem olhos bons, conseguiriam enxergar que tinham diante de si o tão esperado Messias de Israel, sem a necessidade de mais nenhum sinal miraculoso.
Bons olhos são determinantes na forma como enxergamos os outros. A batalha de I Samuel 17.48 foi decidida na forma como se viram um ao outro. Quiçá Golias escapasse com vida se não tivesse olhado com desprezo para seu oponente. Davi viu no gigante filisteu, terror dos homens de Saul, apenas um grande alvo desprotegido e enganado por seus falsos deuses.
Olhos acurados também poderiam ter evitado a expulsão de Jefté da casa de seu pai e a posterior humilhação em ter que trazê-lo de volta. O olhar altivo dos líderes de Gileade em nada foi útil e Jefté não apenas herdou os bens de seu pai, mas reinou por seis anos em Israel. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e não nos permitimos menosprezar as pessoas. Principalmente os irmãos.
Bons olhos são também determinantes na forma como reagimos à visão que outros têm de nós. Sem eufemismos, talvez Labão imaginasse: Como casarei Lia? Quem se interessará por ela? Mas não importou como parentes, serviçais, amigos e até marido olharam para ela; no fim da história, valeu somente como Deus olhou para Lia. Onde eu e você, talvez maldosamente, veríamos apenas uma mulher feia entregue como peso bônus num casamento, Deus viu a mãe de todas as tribos de Israel, do rei Davi e do próprio Senhor Jesus. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e diante de olhares adversos respondemos também que "...pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano[...] pois quem me julga é o Senhor".
Por fim, bons olhos são determinantes na forma como enxergamos a nós mesmos. A visão correta dos fatos permitiria que Zedequias enxergasse que Deus nunca morou em tendas feitas por homens e que Sua presença já há muito havia se afastado de Israel. Nabucodonosor não somente tomou Jerusalém como também queimou o santo templo no qual o rei e o povo punham sua confiança. Bons olhos também teriam permitido ao tolo querubim guardião perceber a obviedade de que "o servo não é maior que o seu senhor" e seu coração seria livre da soberba causada por seu próprio esplendor. Quando nossos olhos são bons, todo o corpo tem luz e não nos atribuímos valor maior do que possuímos para que também não ouçamos que somos "um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu".
Há muita deficiência entre nós na forma com que relacionamo-nos. Sim, eu creio que fomos tocados pelo Senhor, mas, como o cego em Betsaida, ainda vemos "homens como que árvores andando" e precisamos que sobre os nossos olhos Ele nos toque mais uma vez.
Dá-nos bons olhos, Senhor. Precisamos ver o mundo, os fatos, os dias e as pessoas como o Senhor vê.
"Perguntou ao cego: Que queres que te faça? Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu veja". Marcos 10.51
Marcelo Belchior 05.07