Não, não é a mais um caso carioca que me refiro, mas aos dois últimos polêmicos tiros da igreja católica. O mais recente foi disparado pelo sumo-pontífice romano: "segundo casamento é uma praga social". E é mesmo.
Babo de inveja da coragem demonstrada por este líder religioso ao lançar-se no caminho oposto de inúmeras sociedades para reafirmar valores cristãos da instituição que dirige, sem nenhuma chance de negociação ou "jogo de cintura". Uma pena que líderes evangélicos não sejam tão firmes. Não somente aceitam, como também vivem múltiplos casamentos.
A Bíblia admite o divórcio somente porque nossos corações são duros, mas quanto ao casar-se de novo é bem clara - trata-se de adultério. Se não dá mais para viver com aquele(a) que outrora era um grande amor, viva só. Ou reconcilie-se. É porventura dura demais para você esta palavra? Então não considere-se cristão, pelo menos não Católico Apostólico Romano. Bom disparo.
O outro tiro foi de Dom Geraldo Majella, presidente da CNBB: "A camisinha faz com que as pessoas façam do relacionamento sexual momentos sem nenhuma conseqüência”. Com isso eu descordo.
O preservativo de latex não estimula ninguém a nada. Independente da distribuição de preservativos, as pessoas estão cada vez mais promíscuas. O resultado é um número cada vez maior de infectados de toda sorte de doenças sexualmente transmissíveis que se penduram no dinheiro público para financiar seus tratamentos médico-hospitalares. Cabe então ao Estado defender os cofres públicos, livrando-nos de custear mais e mais coqueteis de comprimidos.
À igreja cabe apontar o pecado, suas conseqüências, e um novo caminho para o pecador.
Os papéis institucionais são claramente distintos: quando a igreja diz "não use camisinha", ela está dizendo que precisa haver mudança na vida das pessoas; e quando o governo diz "use camisinha", ele está dizendo que não tem como arcar com as despesas de uma juventude desorientada.
O governo sabe que seria ineficaz levantar a bandeira da "moral e dos bons constumes" para conter os gastos do Ministério da Saúde. O que lhe resta é, se não à causa, o combate ao efeito, distribuindo borracha para quem queira.
Quanto a igreja, faz-se necessário a percepção que a mania de catequese é perniciosa. Querer se utilizar do Estado como ferramenta de conversão nos dá trajes de ignorância e hipocrisia, não combate a causa e, muito menos, o efeito. É o tiro que sempre sai pela culatra.
Marcelo Belchior 03.07