Religião, presunção e arrogância andam de mãos dadas. Há pouco, li sobre a reação de alunos cristãos do Distrito federal a aulas que propunham conhecimento mais abrangente de religiões afro-descendentes, e o repúdio à representação de imagens próprias do candomblé, que culminou no afastamento do professor. (*)
Houve certo exagero, sim, do docente, mas sigo pensando ser válido o ensino religioso nas escolas, sem que, contudo, impregne-se a cabeça do aluno com uma só vertente, seja qual for. Sigo pensando que bom é conhecê-las todas – todas quanto possível for. A educação religiosa pode ser uma poderosa ferramenta na construção de uma sociedade mais tolerante, mais inclusiva e de relacionamentos interpessoais verdadeiramente laicos.
É de extrema importância que nós, cristãos, despertemos para o fato de que a nossa verdade é verdade somente para nós, e que os que nos cercam têm o direito de percebê-la como equívoco, cerrando um ciclo de reciprocidade.
Nossa intolerância apenas gera, cada vez mais, igual intolerância por parte das religiões que há séculos reprimimos no cristão ocidente. A igreja convenientemente ignora pontos salutares da pós-modernidade como aceitação, tolerância e respeito à individualidade e ao pensamento oposto, fomentando um séqüito que se opõe de forma pertinaz a tratamentos mais igualitários na sociedade.
Seria interessante que as nossas crianças fossem municiadas de instrumentos que as possibilitassem notar que possivelmente suas famílias as instruem no cristianismo porque fomos colonizados e catequizados por um reino que se submetia a Roma. Se a história fosse outra, como foi para muitos outros povos, outra seria nossa fé, e, portanto, é preciso respeitar e bem-viver com histórias diferentes.
Meu Cristo não é um orixá, mas se meu semelhante o vir como tal, então que com ele se relacione de tal forma, seja no terreiro de candomblé ou no templo de uma denominação evangélica, porque, sim, há muitos evangélicos que, tendo feito suas oferendas, esperam receber da divindade que reverenciam os favores de exclusivo interesse que a este rogam. Não é isto parte do rito do culto afro? Qual a diferença? Os nomes? A liturgia?
Ser cristão, portanto, nada significa. Ser evangélico, ser católico nada é. Templos e terreiros têm a mesma finalidade e seus rituais religiosos por diversas vezes se confundem.
Deus não vê religião, não ouve músicas, não aplaude danças, não cabe em templos de concreto, não pode ser mensurado, domesticado, loteado ou formatado pelo homem. A humanidade não contém Deus e muito menos o esquadrinhou. Na verdade, muito pouco o compreendeu.
Sabe Deus de todas as coisas, sonda, ele, todos os corações e conhece os pensamentos. Comprou, ele, para si todas as nações, todas as raças, todos os ritos e todas as compreensões.
Acredito, sim, num só caminho, mas também em muitas formas de caminhar, e num só julgador de todos os passos e corações. Acredito na salvação do homem somente por meio do filho de Deus, seja encontrando-o nos templos ou nos terreiros. Ele é senhor das trevas e da luz e ouve clamores no mais alto dos montes e nos mais profundos abismos.
Pode ser que os intolerantes cristãos arianos tenham que curvar-se diante de um Deus negro que escolhe para si um culto com muitos atabaques e tambores.
Se a nossa sociedade conseguir que as crianças reflitam em múltiplas possibilidades, estaremos construindo um futuro mais humano, e se nós, cristãos, atentarmos para o fato de que não somos senhores de Deus, estaremos nos tornando mais parecidos com Cristo.
(*) Leia a matéria -e também comentários- no Correio Braziliense
quinta-feira, novembro 19, 2009
quarta-feira, novembro 04, 2009
Velha novidade que se renova
Fábio Teixeira
A palavra evangelho já traz em si a alma da novidade. Evangelho é boa nova, a boa noticia, a agradável novidade que estava oculta dos séculos e das gerações: Cristo em nós, a esperança da glória. Jesus é o Evangelho. A boa mensagem não é um compendio teológico ou um pensar sobre o amor de Deus. Jesus, em pessoa, é a boa nova. Ele não é um credo, mas crer nele é vida eterna. Ele não é um código de ética, mas andar nele e ser como ele, é viver no caminho do certo. Então tudo se simplifica, já que, se ele é o Evangelho, pregar o Evangelho é pregar ele, e, antes disso, viver o Evangelho é buscar ele como molde, alvo, objeto e objetivo da carreira da fé. Isso é simples, já que a imagem do modelo Jesus é clara, está posta diante de nós nos evangelhos e em todo o Novo Testamento.
Tudo é simples demais. Viver o Evangelho é atentar para o Senhor Jesus, o Evangelho vivo, e para o que ele nos ensinou, mas tudo feito em amor, porque se não for em amor, na prerrogativa da liberdade de escolher a ele, não é Evangelho de Cristo, pois esse se cumpre em amar a Deus sobre tudo, e ao outro como a si mesmo. Fora disso, fora do amar, toda prática pode ser apenas evangélica, mas nunca o viver o Evangelho e para o Evangelho. Perdoar o ofensor, não julgar ninguém, tirar a estaca do próprio olho antes de querer arrancar o pequeno grão dos olhos do irmão, ver o outro superior a si mesmo, é servir, é amar, são os atos de justiça do Reino e toda a liberdade doce e transformadora, santa e simples que Jesus nos ensina a viver. É tudo simples, nada engessado, tudo muito livre e nada muito novo. É o ser mais humano e não o ser mais religioso. Simplesmente isso.
Não estranhamente, essas palavras podem soar novidade. Sei que parecem ser diante da velharia religiosa, legalista e empoeirada das instituições, mas não são novas, são apenas as Boas Novas. Também não são ultrapassadas, pois a Verdade se renova sempre na misericórdia renovável do amor de Deus em Cristo revelado.
Vivamos o Evangelho que não é nada novo, mas capaz de fazer tudo na vida virar novidade de vida.
segunda-feira, outubro 19, 2009
‘Ex-projetistas’
Vagando no Orkut, reencontrei essa comunidade.
Caramba! Sempre haverá feridas abertas, não? Claro! Sempre haverá novas pessoas na classe dos ex-membros. Já não lembro mais quanto tempo faz que saí, apenas lembro-me que foi temporal à saída do Fábio. Os primeiros momentos foram vividos como na comunidade, falando muito, criticando muito, extravasando muito. Fiquei pensando no tempo que passou. Graças a Deus que passou. As feridas fecham, as coisas boas ficam e a experiência surge.
As coisas boas mostram que houve dias impagáveis, de muitos risos, de corações sinceros, de amizades verdadeiras, de aprendizados importantes; mostram que construímos e fomos também construídos. A experiência mostra que fomos ingênuos e, muitas vezes, tolos, mas que fomos verdadeiros. E se fomos verdadeiros, não fomos os únicos, assim como não fomos os únicos tolos. Valeu a pena, e muito, só pelo fato de haver conhecido pessoas excelentes, cheias de virtudes, embora também senhoras de defeitos. Moysés Malafaia, Fábio Teixeira, André Bittencourt – com toda aquela truculência mesmo (rsrs) –, Denílson Alves, Jaiminho, Carlinhos... puxa, são tantos nomes, de tantos grupos e segmentos. No princípio, ainda desejava ser seletivo e cauteloso quanto a quem valia a pena citar, mas o tempo mostrou meus defeitos e a estupidez da minha presunção e arrogância. A graça que me alcança e o sangue que me lava e me compra a eternidade são igualmente para todos.
Não dá mais para viver entre os "projetistas". Entre outros impedimentos, eles ainda são capazes de me machucar e me ferir a alma, mas sou obrigado a admitir que só têm esse poder aqueles a quem eu amo, e Deus sabe o quanto eu os amei e o quanto fui sincero. Possivelmente, muitos vão seguir o mesmo caminho e ainda vão descobrir as mesmas coisas. Então, proponho que, quando a ferida fechar, oremos, de verdade, para que aqueles com os quais um dia nos alegramos estejam novamente a distância de um abraço, de um beijo, um pedido de perdão, um coração sincero, vestes branquiadas no sangue do Cordeiro, à direita do Pai, entre miríades de miríades. Porque bom, bom mesmo, é o Senhor. Só ele, e ninguém mais.
A todos nós, sem restrições, resta a graça.
Caramba! Sempre haverá feridas abertas, não? Claro! Sempre haverá novas pessoas na classe dos ex-membros. Já não lembro mais quanto tempo faz que saí, apenas lembro-me que foi temporal à saída do Fábio. Os primeiros momentos foram vividos como na comunidade, falando muito, criticando muito, extravasando muito. Fiquei pensando no tempo que passou. Graças a Deus que passou. As feridas fecham, as coisas boas ficam e a experiência surge.
As coisas boas mostram que houve dias impagáveis, de muitos risos, de corações sinceros, de amizades verdadeiras, de aprendizados importantes; mostram que construímos e fomos também construídos. A experiência mostra que fomos ingênuos e, muitas vezes, tolos, mas que fomos verdadeiros. E se fomos verdadeiros, não fomos os únicos, assim como não fomos os únicos tolos. Valeu a pena, e muito, só pelo fato de haver conhecido pessoas excelentes, cheias de virtudes, embora também senhoras de defeitos. Moysés Malafaia, Fábio Teixeira, André Bittencourt – com toda aquela truculência mesmo (rsrs) –, Denílson Alves, Jaiminho, Carlinhos... puxa, são tantos nomes, de tantos grupos e segmentos. No princípio, ainda desejava ser seletivo e cauteloso quanto a quem valia a pena citar, mas o tempo mostrou meus defeitos e a estupidez da minha presunção e arrogância. A graça que me alcança e o sangue que me lava e me compra a eternidade são igualmente para todos.
Não dá mais para viver entre os "projetistas". Entre outros impedimentos, eles ainda são capazes de me machucar e me ferir a alma, mas sou obrigado a admitir que só têm esse poder aqueles a quem eu amo, e Deus sabe o quanto eu os amei e o quanto fui sincero. Possivelmente, muitos vão seguir o mesmo caminho e ainda vão descobrir as mesmas coisas. Então, proponho que, quando a ferida fechar, oremos, de verdade, para que aqueles com os quais um dia nos alegramos estejam novamente a distância de um abraço, de um beijo, um pedido de perdão, um coração sincero, vestes branquiadas no sangue do Cordeiro, à direita do Pai, entre miríades de miríades. Porque bom, bom mesmo, é o Senhor. Só ele, e ninguém mais.
A todos nós, sem restrições, resta a graça.
sábado, agosto 22, 2009
Carlin e a bolsa de valores da religião
Sou muito ligado à sociedade norte-americana, por isso descobri agora, 13 meses depois, que George Carlin faleceu vitimado por uma parada cardíaca. Uma pena – sem deboche. O comediante preferido dos ateus era ácido em suas críticas às religiões. Conheci-o via YouTube e, longe de me ofender, diverti-me com muitas de suas felizes e corretíssimas colocações. Somente a hipocrisia e a ignorância podem impedir que nós, crédulos, admitamos a coerência do seu raciocínio. Carlin duvidava com veemência da existência de Deus e tinha o direito de fazê-lo.
Ateísmo é a religião da auto-suficiência, a religião de quem não tem necessidades e é emocionalmente bem resolvido ou, ao menos, que tenta ser. Ateísmo é a religião de quem se aplica a raciocinar e acredita fortemente que tudo se resume à razão, limitando-se à capacidade da compreensão humana. Como todas as demais religiões, merece respeito.
Não obstante à consideração que reservo aos ateus, admirei George Carlin pelo simples fato de perceber que fez o mínimo que se espera de um apologista – não se limitou a repetir ataques vazios, mas se aplicou razoavelmente em conhecer algumas doutrinas para então contestá-las com contradições e dúvidas.
As contradições cristãs são mesmo infindáveis, e inutilmente gasta-se quem tenta acobertá-las ou justificá-las. São frutos humanos de razões e atos igualmente humanos. Não tocam os Céus, não maculam a imagem do divino, senão a imagem do homem e de suas instituições religiosas. O engano que não se poderia cometer no ateísmo, no entanto, é justamente o preferido – confundir e mesclar o homem, suas doutrinas e suas instituições com Deus, fazendo-os um só objeto de infâmia.
À imagem e semelhança de Kant e Nietzsche muitos propositalmente fazem esta fusão com a finalidade de desconstrução de um sistema opressor que lhes inflige culpa. (Jo 3.20) Não há o que possa ser dito a esse tipo de ateu.
Acredito, contudo, na existência de um ateísmo autêntico, que percebi em Carlin que, muito além da piada pronta da religião cheia de contradições, enxergou as infinitas dúvidas que surgem mediante às poucas informações que possuímos a respeito da origem e do destino da existência. Esse é o ponto que mais interessa no ateísmo: as dúvidas. Nunca certeza, porque se dissermos certeza, senão para nós mesmos ("guardarás tua religião para ti mesmo!"*), incorremos no mesmo erro, crédulos e incrédulos, abraçando a arrogância e a presunção.
Ao dar-se o benefício da dúvida, o homem dá-se também os benefícios do respeito mútuo e da escolha segundo sua capacidade perceptiva, quando, por razões exclusivamente intelectuais – jamais por conveniências –, abraça uma crença, ainda que seja a de em nada crer, porque, sinceramente, precisamos admitir que tudo se resume à fé, necessária também para crer na abiogênese e na sua sucessão gloriosa de coincidências evolutivas de Darwin.
Se ateus e evolucionistas espirituais estão corretos, todos nós rumamos juntos a um nada, comum aos crédulos e incrédulos. Se, por outro lado, monoteístas cristãos estiverem certos em suas mais primitivas crenças e verdadeiramente existe um Deus no céu que a tudo criou e deu finalidade, e também enviou seu filho para remissão dos que nele crêem, então a coisa vai ficar muito feia, e nada engraçada, para George Carlin. Quando penso nele e em tantos outros ateus, lembro do que faz o investidor com seus bens, aplicando-os onde pode obter maior rendimento, livrando-se, ao máximo possível, dos riscos. O ateu é, segundo essa analogia, o investidor que aplica seu maior bem em uma crença com poucos rendimentos e muitos riscos.
(*) George Carlin
Ateísmo é a religião da auto-suficiência, a religião de quem não tem necessidades e é emocionalmente bem resolvido ou, ao menos, que tenta ser. Ateísmo é a religião de quem se aplica a raciocinar e acredita fortemente que tudo se resume à razão, limitando-se à capacidade da compreensão humana. Como todas as demais religiões, merece respeito.
Não obstante à consideração que reservo aos ateus, admirei George Carlin pelo simples fato de perceber que fez o mínimo que se espera de um apologista – não se limitou a repetir ataques vazios, mas se aplicou razoavelmente em conhecer algumas doutrinas para então contestá-las com contradições e dúvidas.
As contradições cristãs são mesmo infindáveis, e inutilmente gasta-se quem tenta acobertá-las ou justificá-las. São frutos humanos de razões e atos igualmente humanos. Não tocam os Céus, não maculam a imagem do divino, senão a imagem do homem e de suas instituições religiosas. O engano que não se poderia cometer no ateísmo, no entanto, é justamente o preferido – confundir e mesclar o homem, suas doutrinas e suas instituições com Deus, fazendo-os um só objeto de infâmia.
À imagem e semelhança de Kant e Nietzsche muitos propositalmente fazem esta fusão com a finalidade de desconstrução de um sistema opressor que lhes inflige culpa. (Jo 3.20) Não há o que possa ser dito a esse tipo de ateu.
Acredito, contudo, na existência de um ateísmo autêntico, que percebi em Carlin que, muito além da piada pronta da religião cheia de contradições, enxergou as infinitas dúvidas que surgem mediante às poucas informações que possuímos a respeito da origem e do destino da existência. Esse é o ponto que mais interessa no ateísmo: as dúvidas. Nunca certeza, porque se dissermos certeza, senão para nós mesmos ("guardarás tua religião para ti mesmo!"*), incorremos no mesmo erro, crédulos e incrédulos, abraçando a arrogância e a presunção.
Ao dar-se o benefício da dúvida, o homem dá-se também os benefícios do respeito mútuo e da escolha segundo sua capacidade perceptiva, quando, por razões exclusivamente intelectuais – jamais por conveniências –, abraça uma crença, ainda que seja a de em nada crer, porque, sinceramente, precisamos admitir que tudo se resume à fé, necessária também para crer na abiogênese e na sua sucessão gloriosa de coincidências evolutivas de Darwin.
Se ateus e evolucionistas espirituais estão corretos, todos nós rumamos juntos a um nada, comum aos crédulos e incrédulos. Se, por outro lado, monoteístas cristãos estiverem certos em suas mais primitivas crenças e verdadeiramente existe um Deus no céu que a tudo criou e deu finalidade, e também enviou seu filho para remissão dos que nele crêem, então a coisa vai ficar muito feia, e nada engraçada, para George Carlin. Quando penso nele e em tantos outros ateus, lembro do que faz o investidor com seus bens, aplicando-os onde pode obter maior rendimento, livrando-se, ao máximo possível, dos riscos. O ateu é, segundo essa analogia, o investidor que aplica seu maior bem em uma crença com poucos rendimentos e muitos riscos.
(*) George Carlin
segunda-feira, agosto 03, 2009
Desrespeito à Bíblia
O Papa sentiu-se ofendido por uma galeria de arte que permitiu que vandalizassem um exemplar da Bíblia Sagrada. Sob o título ‘Feito à Imagem de Deus’, a exposição que causou horror na cristandade européia tinha como objeto central uma Bíblia sobre a qual os visitantes puderam escrever mensagens, comentários jocosos, fazer desenhos obscenos e afins. Duvidando que alguém o fizesse, o Papa desafiou que o mesmo se repita ao Alcorão.
Qual é, seu Bento XVI? Já dizia o sacro ditado cristão: “quem tem, tem medo” – é claro que ninguém vai promover o mesmo achincaclhe ao Alcorão. Em suas fileiras, o islamismo mantém radicalistas que defendem e promovem até suicídio como arma contra os infiéis. O Cristianismo prega, no máximo, perdão e amor. Pelo menos neste século.
Qual é, seu Bento XVI? Já dizia o sacro ditado cristão: “quem tem, tem medo” – é claro que ninguém vai promover o mesmo achincaclhe ao Alcorão. Em suas fileiras, o islamismo mantém radicalistas que defendem e promovem até suicídio como arma contra os infiéis. O Cristianismo prega, no máximo, perdão e amor. Pelo menos neste século.
Radicalistas são indivíduos anencéfalos que enfileiram qualquer seguimento religioso e que, durante séculos, infestaram o cristianismo promovendo o terrorismo medieval a todos quantos fossem julgados hereges e pagãos.
Embora já se vá distante a data em que Galileu se viu condenado ao confinamento por simplesmente crer que a terra se move, esse sentimento de vitupério em nós pelos tais rabiscos não é claro vestígio dessa praga no cristianismo?
O radicalista é extremista porque é insano, e, francamente, é insano ofender-se com rabiscos numa Bíblia. Trata-se de um livro como outro qualquer e que, creiam, não vai herdar o Céu. No Paraíso não haverá exemplares das Bíblias do Silas Malafaia ou do Russell Shedd . A Bíblia só é diferente quando torna-se Palavra de Deus. E só torna-se Palavra de Deus quando quem a lê, ou mesmo a ouve, a recebe como tal. A Palavra não passará jamais. A Bíblia, sim!
sábado, julho 11, 2009
Morrerás e não viverás
Os sonhos de Deus para o homem
Alguns ditos populares do evangeliquês nosso de cada dia são catastróficos não exatamente pela agressão de seus absurdos exegéticos, mas pela ampla aceitação que conquistam no coração e na mente dos incautos. Um desses ditos, que facilmente viram adesivos de pára-brisas, é: “Não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim seus sonhos”.
É verdade que ninguém há que possa impedir as ações de Deus ou mesmo coibir suas intenções, e, nisto, estão corretos os que com brados vitoriosos lançam mão desta frase.
O problema é que facilmente os ditos sonhos de Deus são distorcidos em sonhos e anseios exclusivos do mesquinho coração humano, montando-lhe uma potencial bomba de desânimo, desequilíbrio e morte acionada por frustrações desencadeadas por desejos e metas que jamais se cumprirão.
Muito dificilmente esse dito é levado a púlpito deixando-se bem claro que também esses tais sonhos de Deus possam ser completamente adversos aos nossos. Deus também diz não, e é possível que entre seus desejos esteja também o desejo de morte.
Para a teologia de mercado, na qual tudo sempre vai dar certo segundo nossos desígnios, um personagem áureo é Ezequias, o afamado rei de Judá que, adoecido, ouve do Senhor que morrerá e não viverá. A teologia por trás do “não morrerei...” exalta o rei Ezequias por causa de sua ‘bem sucedida’ oração que fez com que Deus lhe acrescentasse 15 anos de vida.
Ezequias é um marco na linhagem real de Judá. Antes somente o Rei Davi, depois nenhum outro pôde ser a ele comparado em termos de fidelidade e relacionamento com Deus. Ocorre, no entanto, que Ezequias poderia ser muito maior do que é, e nisto mesmo consistia o desejo de Deus para sua história – a coroação de uma vida que andou diante dele em verdade e com coração perfeito, fazendo o que era bom aos seus olhos.
Ferindo de morte o rei, Deus desejou isolá-lo historicamente de uma linhagem imunda, cuja fidelidade e compromisso com ele eram mais instáveis que as relações com reinos vizinhos. Como não tinha filhos, Ezequias seria esquecido na linha de sucessão. Morreria e não viveria, portanto.
O rei não foi capaz de entender o sonho de Deus para si, porque era sonho de morte. O tempo voltou 40 minutos, mas Berodaque-Baladã pôs os olhos nas riquezas do templo, e Manasses nasceu para cobrir de vergonha o nome e as obras de seu pai.
Morrerás e não viverás – contudo, um outro rei disse sim.
Mesmo diante da grande agonia que lhe fora proposta, o Rei de todos os reis aceitou os sonhos de Deus: “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.” Eis o verdadeiro exemplo a ser seguido, a antítese da enaltecida gafe de Ezequias cada vez mais execrável pela teologia do triunfalismo.
Sim! Que realizem-se em nós os sonhos de Deus, mas que também perseveremos nisso ainda que sejam sonhos de naufrágios, prisões e martírio. Que verdadeiramente não morramos enquanto não se cumpram seus desígnios, mesmo que sejam adversos aos nossos, e ainda que sejam exatamente desígnios de morte. Quando estivermos na situação do rei Ezequias, que também nos voltemos contra a parede, mas que digamos a ele que não seja feito o que nós queremos, mas o que ele quer.
“O nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” Salmo 115. 3
Alguns ditos populares do evangeliquês nosso de cada dia são catastróficos não exatamente pela agressão de seus absurdos exegéticos, mas pela ampla aceitação que conquistam no coração e na mente dos incautos. Um desses ditos, que facilmente viram adesivos de pára-brisas, é: “Não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim seus sonhos”.
É verdade que ninguém há que possa impedir as ações de Deus ou mesmo coibir suas intenções, e, nisto, estão corretos os que com brados vitoriosos lançam mão desta frase.
O problema é que facilmente os ditos sonhos de Deus são distorcidos em sonhos e anseios exclusivos do mesquinho coração humano, montando-lhe uma potencial bomba de desânimo, desequilíbrio e morte acionada por frustrações desencadeadas por desejos e metas que jamais se cumprirão.
Muito dificilmente esse dito é levado a púlpito deixando-se bem claro que também esses tais sonhos de Deus possam ser completamente adversos aos nossos. Deus também diz não, e é possível que entre seus desejos esteja também o desejo de morte.
Para a teologia de mercado, na qual tudo sempre vai dar certo segundo nossos desígnios, um personagem áureo é Ezequias, o afamado rei de Judá que, adoecido, ouve do Senhor que morrerá e não viverá. A teologia por trás do “não morrerei...” exalta o rei Ezequias por causa de sua ‘bem sucedida’ oração que fez com que Deus lhe acrescentasse 15 anos de vida.
Ezequias é um marco na linhagem real de Judá. Antes somente o Rei Davi, depois nenhum outro pôde ser a ele comparado em termos de fidelidade e relacionamento com Deus. Ocorre, no entanto, que Ezequias poderia ser muito maior do que é, e nisto mesmo consistia o desejo de Deus para sua história – a coroação de uma vida que andou diante dele em verdade e com coração perfeito, fazendo o que era bom aos seus olhos.
Ferindo de morte o rei, Deus desejou isolá-lo historicamente de uma linhagem imunda, cuja fidelidade e compromisso com ele eram mais instáveis que as relações com reinos vizinhos. Como não tinha filhos, Ezequias seria esquecido na linha de sucessão. Morreria e não viveria, portanto.
O rei não foi capaz de entender o sonho de Deus para si, porque era sonho de morte. O tempo voltou 40 minutos, mas Berodaque-Baladã pôs os olhos nas riquezas do templo, e Manasses nasceu para cobrir de vergonha o nome e as obras de seu pai.
Morrerás e não viverás – contudo, um outro rei disse sim.
Mesmo diante da grande agonia que lhe fora proposta, o Rei de todos os reis aceitou os sonhos de Deus: “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.” Eis o verdadeiro exemplo a ser seguido, a antítese da enaltecida gafe de Ezequias cada vez mais execrável pela teologia do triunfalismo.
Sim! Que realizem-se em nós os sonhos de Deus, mas que também perseveremos nisso ainda que sejam sonhos de naufrágios, prisões e martírio. Que verdadeiramente não morramos enquanto não se cumpram seus desígnios, mesmo que sejam adversos aos nossos, e ainda que sejam exatamente desígnios de morte. Quando estivermos na situação do rei Ezequias, que também nos voltemos contra a parede, mas que digamos a ele que não seja feito o que nós queremos, mas o que ele quer.
“O nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” Salmo 115. 3
quarta-feira, julho 01, 2009
A videira não mente
Fábio Teixeira - www.menteiluminada.blogspot.com
Jesus é a videira verdadeira. Não de fato uma videira, porém, ele mesmo ilustra nossa dependência dele como os galhos e frutos dependentes da seiva da árvore para sobreviver. Assim, plantados nele, por meio da graça, viveremos sustentados em seu amor.
Ele é a videira verdadeira. Acontece que outros seres evocam para si prerrogativas que são próprias da videira verdadeira. Igrejas, pastores e afins dizem, sem que digam, mas às vezes dizendo, que sem eles não há salvação. Dizem com sua teologia, estranhamente possuidora de Deus, coisas assim: "fora da igreja evangélica não há salvação; sem a cobertura pastoral não há vida com Deus; sem ser membro de alguma igreja não se é membro do Corpo; sem se estar nas rodas evangélicas, se está na roda dos escarnecedores; sem ouvir música evangélica não se adora a Deus; sem apóstolos não há avivamento; sem os ministérios não há ministério; sem títulos não há crescimento espiritual; sem levitas não há musica santa; sem os crentes não há Jesus". Há outras coisas ditas, como estas, que fazem da igreja uma videirinha falsa, geradora de videirinhas falsificadas, já que as coberturas espirituais, os discipuladores, os pais na fé e afins se veêm, e são vistos, como geradores das vidas que “ganham” e que, rapidamente, viram seus ramos e que, em gerando ramos, são ramos dos ramos. Cria-se, assim, bonsais da fé, cujo fundamento é a dependência no outro.
Pessoas são tratadas como possessão de líderes, bens espirituais, metas alcançadas, resultados pessoais. Geralmente, isso resulta em corações despedaçados a longo prazo. Você conhece alguém que um dia se descobriu oprimido, mesmo tendo certeza que era livre? Infelizes sorridentes. Cheios de belos discursos, mas com pouca vida de fato. Pouca seiva da Videira. São videirinhas plantadas em vasos eclesiásticos enfeitando as salas da dominação. São troféus ministeriais levantados quando necessário, mas na maior parte do tempo empoeirados.
Fica aqui o meu grito, que não é meu: Só há uma Videira. Nela fomos plantados.
O Pai nos limpou, e nos limpa por sua Palavra. Nada, nem ninguém, é videira.
Não quero ser videira. Meu papel é de ramo.
Conviver com os irmãos é bom demais; reunirmo-nos para adorar a Deus e estudarmos a Palavra é bom demais; cumprir, cada um, sua função no serviço de Cristo, em amor, é bom demais; orar, estudar, visitar, ensinar, aprender, tocar, levantar as mãos, dar as mãos e afins, é tudo muito bom demais. Tornar-se videira é mentir.
Que cada um, diariamente e em amor, beba e coma da seiva vida que flui na Videira Verdadeira.
No amor de Quem nos ensina que o fruto é o amor, e frutificar é amar.
Saúde e Paz.
Jesus é a videira verdadeira. Não de fato uma videira, porém, ele mesmo ilustra nossa dependência dele como os galhos e frutos dependentes da seiva da árvore para sobreviver. Assim, plantados nele, por meio da graça, viveremos sustentados em seu amor.
Ele é a videira verdadeira. Acontece que outros seres evocam para si prerrogativas que são próprias da videira verdadeira. Igrejas, pastores e afins dizem, sem que digam, mas às vezes dizendo, que sem eles não há salvação. Dizem com sua teologia, estranhamente possuidora de Deus, coisas assim: "fora da igreja evangélica não há salvação; sem a cobertura pastoral não há vida com Deus; sem ser membro de alguma igreja não se é membro do Corpo; sem se estar nas rodas evangélicas, se está na roda dos escarnecedores; sem ouvir música evangélica não se adora a Deus; sem apóstolos não há avivamento; sem os ministérios não há ministério; sem títulos não há crescimento espiritual; sem levitas não há musica santa; sem os crentes não há Jesus". Há outras coisas ditas, como estas, que fazem da igreja uma videirinha falsa, geradora de videirinhas falsificadas, já que as coberturas espirituais, os discipuladores, os pais na fé e afins se veêm, e são vistos, como geradores das vidas que “ganham” e que, rapidamente, viram seus ramos e que, em gerando ramos, são ramos dos ramos. Cria-se, assim, bonsais da fé, cujo fundamento é a dependência no outro.
Pessoas são tratadas como possessão de líderes, bens espirituais, metas alcançadas, resultados pessoais. Geralmente, isso resulta em corações despedaçados a longo prazo. Você conhece alguém que um dia se descobriu oprimido, mesmo tendo certeza que era livre? Infelizes sorridentes. Cheios de belos discursos, mas com pouca vida de fato. Pouca seiva da Videira. São videirinhas plantadas em vasos eclesiásticos enfeitando as salas da dominação. São troféus ministeriais levantados quando necessário, mas na maior parte do tempo empoeirados.
Fica aqui o meu grito, que não é meu: Só há uma Videira. Nela fomos plantados.
O Pai nos limpou, e nos limpa por sua Palavra. Nada, nem ninguém, é videira.
Não quero ser videira. Meu papel é de ramo.
Conviver com os irmãos é bom demais; reunirmo-nos para adorar a Deus e estudarmos a Palavra é bom demais; cumprir, cada um, sua função no serviço de Cristo, em amor, é bom demais; orar, estudar, visitar, ensinar, aprender, tocar, levantar as mãos, dar as mãos e afins, é tudo muito bom demais. Tornar-se videira é mentir.
Que cada um, diariamente e em amor, beba e coma da seiva vida que flui na Videira Verdadeira.
No amor de Quem nos ensina que o fruto é o amor, e frutificar é amar.
Saúde e Paz.
sexta-feira, junho 26, 2009
"Quais são as palavras que nunca foram ditas"... e precisamos urgentemente
dizê-las?
Há ultimamente algumas orações que não me saem da cabeça. Tantas são as necessidades, sonhos e desejos humanos, que há uma infinidade de palavras que carecemos para expressá-los a Deus. Três sentenças, no entanto, são sine qua non para a vida cristã, e encontramo-las em orações nos Evangelhos de Marcos e Lucas.
Evangelho de Marcos 10.51: “... Mestre, que eu veja!”.
Parece óbvio que um cego, tendo a oportunidade de fazê-lo, peça a Deus que o cure e, portanto, quem enxerga nada tem a ver com estas palavras, certo? Ocorre que Bartimeu levava vantagem sobre qualquer outro homem porque, diferente de todos, ele sabia que não enxergava. Isso mesmo! A diferença entre nós e Bartimeu está no fato de que ele estava cônscio de sua debilidade, enquanto nós levamos a vida sem nos dar conta que sofremos do mesmo mal.
Porque não enxergamos nossa principal debilidade, somos incapazes de ver o outro, o próximo, o amigo, o irmão como eles realmente são, com todas suas qualidades e também defeitos, a importância deles e o quanto deles somos dependentes. Somos incapazes muitas vezes de ver a riqueza dos dias e das manhãs, de ver as dádivas da saúde, do riso, do abraço, do afeto, do emprego, da comida, da água abundante, e, também, do sangue derramado e da salvação gratuitamente ofertada. Há entre nós vidas consumidas pela cegueira, que tendo tanto e tantos são capazes de viver em completa tristeza e agonia por algo que não possuem. Não foi à toa que Cristo nos disse que olhos bons põem todo o corpo em luz.
Evangelho de Lucas 18.13: “... Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”.
Quem julga enxergar precisa notar sua real condição. Somos todos iguais e igualmente carentes da graça e da misericórdia de Deus. Não há nada que possamos a ele ofertar que nos faça merecedores do seu favor e da sua atenção. Quão perniciosas são a presunção e a soberba, que não somente nos dizem que podemos e capazes somos de pagar a Deus, ou aos Céus, nossas dívidas e nossos pecados, como também de que somos capazes de tornarmo-nos livres de pecar, super-homens, santarrões, que a todos podem julgar e condenar, e também determinar como, de Deus, podem os homens se aproximar e com ele se relacionar. Se permitirmos que a presunção tome nossos corações, nos tornaremos como os de Laodicéia, e, do próprio Deus, ouviremos que somos desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus. (Apocalipse 3.17-18)
Evangelho de Lucas 23.42: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. O famoso ladrão da cruz é o golpe mais duro nas infinitas doutrinas de sacramento. Ele não freqüentou os cultos de domingo, não tomou a santa ceia, não dizimou, não ofertou, não comeu a hóstia, não se batizou, não fez crisma, não se circuncidou, não guardou o sábado e tampouco o domingo, não recebeu extrema-unção, e ainda assim ouviu do Filho de Deus que, naquele mesmo dia, como ele estaria no paraíso. O grande absurdo do Evangelho de Cristo consiste no fato de que o senhor da salvação é ele, não nós. Muito antes, Deus já havia dito a Moisés (Êxodo 33.19) que teria misericórdia e se compadeceria de quem ele quisesse ter misericórdia e se compadecer. A salvação eterna, o caminho vivo e verdadeiro que leva a Deus, não pertence aos crentes, aos evangélicos, aos católicos, aos umbandistas, aos hindus, aos kardecistas, ou a qualquer outro, mas a Cristo, o filho de Deus, ao cordeiro de Deus, que tira o pecado de todos os homens, em todos os tempos e em todas as gerações, e que foi por Deus mesmo ofertado desde a fundação do mundo (Apocalipse 13.8). O que fez o ladrão da cruz, fazem também hoje muitos homens de todas as línguas, nações, ideologias e crenças quando, tocados pelo Espírito Santo, compreendem que têm diante de si o salvador e o reconhecem não como um guru, um espírito iluminado ou um grande sábio da humanidade, mas como Senhor e Rei, como o próprio Deus, que ofertou a si mesmo para que nele se cumprisse a justiça que determina que sem derramamento de sangue não há perdão de pecados. (Hebreus 9.22).
Entre tantas coisas que a Deus posso dizer, prefiro antes estas orações. Que nas minhas orações eu peça que não perca a habilidade de enxergar as pessoas que eu amo e de como sou rico por tê-las comigo. Que eu agradeça por tudo que eu tenho, mesmo que não seja tudo o que eu quero e julgue precisar. Que sejam orações nas quais eu consiga expressar um coração cheio de gratidão pelo perdão dos meus pecados, pela recondução ao Céu, pelo vivo sacrifício de Jesus e pelo privilégio de percebê-lo. Que eu peça a Deus que nunca deixe me sentir melhor que meus irmãos, mais santo que eles ou mais merecedor da graça de Deus que qualquer outro homem. Que, ao contrário, haja em mim um coração perdoador, capaz de perceber que também eu machuco e magôo, e que há em mim também todo o potencial de maldade e maledicência que há em qualquer homem e mulher e que, portanto, não sou melhor que ninguém e a ninguém posso julgar. Que possamos dizer palavras assim, que inspire quem perto de nós esteja a dizer: “Senhor, lembra de mim. Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim, pecador”.
Abençoe-nos, Deus. Todos os dias.
Evangelho de Marcos 10.51: “... Mestre, que eu veja!”.
Parece óbvio que um cego, tendo a oportunidade de fazê-lo, peça a Deus que o cure e, portanto, quem enxerga nada tem a ver com estas palavras, certo? Ocorre que Bartimeu levava vantagem sobre qualquer outro homem porque, diferente de todos, ele sabia que não enxergava. Isso mesmo! A diferença entre nós e Bartimeu está no fato de que ele estava cônscio de sua debilidade, enquanto nós levamos a vida sem nos dar conta que sofremos do mesmo mal.
Porque não enxergamos nossa principal debilidade, somos incapazes de ver o outro, o próximo, o amigo, o irmão como eles realmente são, com todas suas qualidades e também defeitos, a importância deles e o quanto deles somos dependentes. Somos incapazes muitas vezes de ver a riqueza dos dias e das manhãs, de ver as dádivas da saúde, do riso, do abraço, do afeto, do emprego, da comida, da água abundante, e, também, do sangue derramado e da salvação gratuitamente ofertada. Há entre nós vidas consumidas pela cegueira, que tendo tanto e tantos são capazes de viver em completa tristeza e agonia por algo que não possuem. Não foi à toa que Cristo nos disse que olhos bons põem todo o corpo em luz.
Evangelho de Lucas 18.13: “... Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”.
Quem julga enxergar precisa notar sua real condição. Somos todos iguais e igualmente carentes da graça e da misericórdia de Deus. Não há nada que possamos a ele ofertar que nos faça merecedores do seu favor e da sua atenção. Quão perniciosas são a presunção e a soberba, que não somente nos dizem que podemos e capazes somos de pagar a Deus, ou aos Céus, nossas dívidas e nossos pecados, como também de que somos capazes de tornarmo-nos livres de pecar, super-homens, santarrões, que a todos podem julgar e condenar, e também determinar como, de Deus, podem os homens se aproximar e com ele se relacionar. Se permitirmos que a presunção tome nossos corações, nos tornaremos como os de Laodicéia, e, do próprio Deus, ouviremos que somos desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus. (Apocalipse 3.17-18)
Evangelho de Lucas 23.42: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. O famoso ladrão da cruz é o golpe mais duro nas infinitas doutrinas de sacramento. Ele não freqüentou os cultos de domingo, não tomou a santa ceia, não dizimou, não ofertou, não comeu a hóstia, não se batizou, não fez crisma, não se circuncidou, não guardou o sábado e tampouco o domingo, não recebeu extrema-unção, e ainda assim ouviu do Filho de Deus que, naquele mesmo dia, como ele estaria no paraíso. O grande absurdo do Evangelho de Cristo consiste no fato de que o senhor da salvação é ele, não nós. Muito antes, Deus já havia dito a Moisés (Êxodo 33.19) que teria misericórdia e se compadeceria de quem ele quisesse ter misericórdia e se compadecer. A salvação eterna, o caminho vivo e verdadeiro que leva a Deus, não pertence aos crentes, aos evangélicos, aos católicos, aos umbandistas, aos hindus, aos kardecistas, ou a qualquer outro, mas a Cristo, o filho de Deus, ao cordeiro de Deus, que tira o pecado de todos os homens, em todos os tempos e em todas as gerações, e que foi por Deus mesmo ofertado desde a fundação do mundo (Apocalipse 13.8). O que fez o ladrão da cruz, fazem também hoje muitos homens de todas as línguas, nações, ideologias e crenças quando, tocados pelo Espírito Santo, compreendem que têm diante de si o salvador e o reconhecem não como um guru, um espírito iluminado ou um grande sábio da humanidade, mas como Senhor e Rei, como o próprio Deus, que ofertou a si mesmo para que nele se cumprisse a justiça que determina que sem derramamento de sangue não há perdão de pecados. (Hebreus 9.22).
Entre tantas coisas que a Deus posso dizer, prefiro antes estas orações. Que nas minhas orações eu peça que não perca a habilidade de enxergar as pessoas que eu amo e de como sou rico por tê-las comigo. Que eu agradeça por tudo que eu tenho, mesmo que não seja tudo o que eu quero e julgue precisar. Que sejam orações nas quais eu consiga expressar um coração cheio de gratidão pelo perdão dos meus pecados, pela recondução ao Céu, pelo vivo sacrifício de Jesus e pelo privilégio de percebê-lo. Que eu peça a Deus que nunca deixe me sentir melhor que meus irmãos, mais santo que eles ou mais merecedor da graça de Deus que qualquer outro homem. Que, ao contrário, haja em mim um coração perdoador, capaz de perceber que também eu machuco e magôo, e que há em mim também todo o potencial de maldade e maledicência que há em qualquer homem e mulher e que, portanto, não sou melhor que ninguém e a ninguém posso julgar. Que possamos dizer palavras assim, que inspire quem perto de nós esteja a dizer: “Senhor, lembra de mim. Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim, pecador”.
Abençoe-nos, Deus. Todos os dias.
domingo, junho 21, 2009
Nem todo o que me diz: irmão, irmão!
Dizia a antiga canção que "se o teu coração é igual ao meu, [...] meu irmão serás". A letra tinha uma proposta antipartidarista, mostrando que cristão é quem segue a Cristo e não a uma denominação.
Verdadeiros cristãos, no entanto, não precisam de canções para saberem que Igreja e Corpo não têm absolutamente nada a ver com denominações ou instituições religiosas, contudo, as canções continuam sendo necessárias, porquanto cristãos verdadeiros são poucos, e partidaristas uma incontável miríade, "tantos como a areia da praia".
"Irmão, você é benção na minha vida"; "Irmão, eu te amo"; "Paz do Senhor entre nós, irmão!". De verdade, alguém deixaria um irmão no ponto de ônibus, sob forte chuva, tendo espaço em seu confortável carro e indo para o mesmo bairro? Alguém deixaria seu irmão ficar sem luz, telefone, dinheiro de passagem ou até mesmo comida, tendo plenas condições de supri-lo? Alguém deixaria de visitar um irmão que estivesse doente? Alguém evitaria ir à casa de seu irmão por causa de desigualdade social? Quando encerra-se a reunião dominical, facilmente percebe-se que o termo “irmão” é utilizado apenas para designar um membro, um colega de séqüito.
O irmão Ronaldo veio do Espírito Santo para o Rio. Aqui conheceu Cristo, recuperou-se do alcoolismo e conseguiu um trabalho na igreja – ganhava o suficiente para comer e se vestir, e, em troca, trabalhava o dia inteiro. Quase todas as noites também, em tudo que fosse necessário.
Não era estúpido, havia perdido um bom emprego na Odebrecht e sua família somente por causa do vício, e, embora soubesse que não recuperaria seu status quo, pôde ainda iniciar-se em uma nova profissão. Abriu um pequeno negócio de informática, alugou uma modesta casa e trouxe de volta sua família. Estava feliz, havia recuperado sua dignidade.
Achou-se no direito de deixar o trabalho de mais de uma década na igreja – sem levar um vintém sequer – para dedicar-se integralmente ao seu negócio. Cometeu terrível engano.
Pouco tempo depois foi acometido de um derrame que paralisou parcialmente seus movimentos, o suficiente para comprometer suas habilidades, além de dificultar novos contatos pela mudança em sua aparência.
Achou que poderia contar com seus irmãos. Outro engano. Ronaldo não tinha mais a mesma utilidade para a igreja, ficou lento e complexo na fala. Não servia mais. Ganhou uns trocadinhos e muito desprezo.
Quatro anos depois, sob muitas pás de terra, sozinho num quarto de uma oficina que lhe fora cedido, sofreu a primeira parada cardíaca numa manhã. Outras duas se sucederam até que o único irmão que não o abandonou notasse que havia algo errado com Ronaldo, que já não tinha mais voz para pedir socorro. Era tarde demais quando à tarde deu entrada no hospital.
Ao menos restaria aos muitos outros irmãos e aos familiares a última despedida, a última mostra pública de consideração e estima. Não! Outro engano. Foi enterrado quase sozinho. Eu estava lá, mas lembro muito bem que lhe disse que não iria mais lhe emprestar os ouvidos para ouvi-lo blasfemar. Ainda bem que aquele de quem meu irmão blasfemava nunca, em momento algum, o deixou, antes prometeu que estaria com ele todos os dias, que não o deixaria nem o abandonaria. Se fizesse sua cama no mais profundo abismo, ali estaria. Se subisse o mais alto dos montes, ali também estaria.
Irmãos de verdade, cristãos de verdade, são pouquíssimos.
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade". Mateus 7.21-23
Verdadeiros cristãos, no entanto, não precisam de canções para saberem que Igreja e Corpo não têm absolutamente nada a ver com denominações ou instituições religiosas, contudo, as canções continuam sendo necessárias, porquanto cristãos verdadeiros são poucos, e partidaristas uma incontável miríade, "tantos como a areia da praia".
"Irmão, você é benção na minha vida"; "Irmão, eu te amo"; "Paz do Senhor entre nós, irmão!". De verdade, alguém deixaria um irmão no ponto de ônibus, sob forte chuva, tendo espaço em seu confortável carro e indo para o mesmo bairro? Alguém deixaria seu irmão ficar sem luz, telefone, dinheiro de passagem ou até mesmo comida, tendo plenas condições de supri-lo? Alguém deixaria de visitar um irmão que estivesse doente? Alguém evitaria ir à casa de seu irmão por causa de desigualdade social? Quando encerra-se a reunião dominical, facilmente percebe-se que o termo “irmão” é utilizado apenas para designar um membro, um colega de séqüito.
O irmão Ronaldo veio do Espírito Santo para o Rio. Aqui conheceu Cristo, recuperou-se do alcoolismo e conseguiu um trabalho na igreja – ganhava o suficiente para comer e se vestir, e, em troca, trabalhava o dia inteiro. Quase todas as noites também, em tudo que fosse necessário.
Não era estúpido, havia perdido um bom emprego na Odebrecht e sua família somente por causa do vício, e, embora soubesse que não recuperaria seu status quo, pôde ainda iniciar-se em uma nova profissão. Abriu um pequeno negócio de informática, alugou uma modesta casa e trouxe de volta sua família. Estava feliz, havia recuperado sua dignidade.
Achou-se no direito de deixar o trabalho de mais de uma década na igreja – sem levar um vintém sequer – para dedicar-se integralmente ao seu negócio. Cometeu terrível engano.
Pouco tempo depois foi acometido de um derrame que paralisou parcialmente seus movimentos, o suficiente para comprometer suas habilidades, além de dificultar novos contatos pela mudança em sua aparência.
Achou que poderia contar com seus irmãos. Outro engano. Ronaldo não tinha mais a mesma utilidade para a igreja, ficou lento e complexo na fala. Não servia mais. Ganhou uns trocadinhos e muito desprezo.
Quatro anos depois, sob muitas pás de terra, sozinho num quarto de uma oficina que lhe fora cedido, sofreu a primeira parada cardíaca numa manhã. Outras duas se sucederam até que o único irmão que não o abandonou notasse que havia algo errado com Ronaldo, que já não tinha mais voz para pedir socorro. Era tarde demais quando à tarde deu entrada no hospital.
Ao menos restaria aos muitos outros irmãos e aos familiares a última despedida, a última mostra pública de consideração e estima. Não! Outro engano. Foi enterrado quase sozinho. Eu estava lá, mas lembro muito bem que lhe disse que não iria mais lhe emprestar os ouvidos para ouvi-lo blasfemar. Ainda bem que aquele de quem meu irmão blasfemava nunca, em momento algum, o deixou, antes prometeu que estaria com ele todos os dias, que não o deixaria nem o abandonaria. Se fizesse sua cama no mais profundo abismo, ali estaria. Se subisse o mais alto dos montes, ali também estaria.
Irmãos de verdade, cristãos de verdade, são pouquíssimos.
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade". Mateus 7.21-23
sábado, maio 09, 2009
A multidão só quer o pão
Este texto é parte de tema desenvolvido em: http://depitaco.blogspot.com/
Cada um tem o que busca. Há quem busque ser tosquiado. Há quem engorde muito com carne de ovelha magra.
O grande 'problema' do Evangelho de Cristo é sua insistência na afirmativa da necessidade do homem em relacionar-se com Deus por meio de seu filho. Relacionamentos exigem, inexoravelmente, vínculos e comprometimento, e eis aí nosso grande entrave com o cristianismo. A sociedade pós-moderna não lida bem com compromissos e concomitantemente é profundamente mística.
Misticismos se constroem com crendices que se sustentam pela ignorância. Entende-se, portanto, porque tanto sucesso fazem as religiões de mercado. Pirâmides, duendes, cristais, incensos, anjos, cores, luzes e afins são capazes de curar, dar paz, trazer sucessos, proteger, consertar erros e mudar realidades incômodas, sejam elas quais forem, sem requerer nenhum compromisso de quem delas se utilizem.
Diante dessa realidade, as religiões concorrentes precisam recuperar o fôlego perdido. Se há uma pessoa – a pessoa -, haverá relação e compromisso, e isso é demasiadamente cansativo, a menos que se ofereçam bônus, pontuação e milhagem por fidelidade. Portanto, já é possível ser evangélico sem Cristo. Heureca! É isso que se busca. Sim, até queremos Cristo! Só precisamos saber que vantagem teremos.
Ninguém quer ouvir que Deus não lhe deve nada, que está no Céu e que faz tudo que lhe apraz. Queremos um Deus semelhante a nós: manipulável. Só precisamos encontrar quem, manipulando-nos, prometa-nos manipulá-lo. As palavras de Cristo são demasiadamente enfadonhas se não devidamente retificadas por um bondoso manipulador. Só ele saberá açucarar um fardo não tão leve assim. Sim, eis nossa lã! Eis nossos dízimos, nossas ofertas e oferendas, nossas “primícias”, nossos “desafios”, nosso dinheiro e tudo mais que se exija – dá-nos tão somente o poder de controle sobre a divindade que tudo pode, mas que tem a péssima mania de querer mudar-nos e fazer-nos semelhantes a ele.
Primeiro, morrerão os mais próximos aos chiqueiros
Este texto é parte de tema desenvolvido em: http://depitaco.blogspot.com
Noventa por cento de chance de sobrevivência. Queria ver a ministra Dilma ter as mesmas chances caso possuísse o mesmo seguro de assistência médica que eu: Golden SUS.
O que assusta não é a certeza de que gripe A vai desembarcar em nosso protegido território brasileiro, mas a de que nossos governantes continuarão inertes frente às necessidades de um investimento sério no sistema de saúde pública, independente da pandemia que se apresente. O que assusta de verdade é saber o tipo de “medicina” que nós, que não estamos na Casa Civil, disporemos. O coágulo está de um lado, e os médicos operam do outro. Interna-se a mãe e ganha-se uma estranha para levar para casa e cuidar. Imagine essas mentes brilhantes diagnosticando uma variação do influenza H1N1.
Cedo ou tarde, a humanidade será dizimada. Ira de Deus? Não, mas o cumprimento de sua Palavra no abrir dos selos, no tocar das trombetas e no derramamento das taças do Apocalipse que, certamente, tragarão primeiramente os desfavorecidos.
Noventa por cento de chance de sobrevivência. Queria ver a ministra Dilma ter as mesmas chances caso possuísse o mesmo seguro de assistência médica que eu: Golden SUS.
O que assusta não é a certeza de que gripe A vai desembarcar em nosso protegido território brasileiro, mas a de que nossos governantes continuarão inertes frente às necessidades de um investimento sério no sistema de saúde pública, independente da pandemia que se apresente. O que assusta de verdade é saber o tipo de “medicina” que nós, que não estamos na Casa Civil, disporemos. O coágulo está de um lado, e os médicos operam do outro. Interna-se a mãe e ganha-se uma estranha para levar para casa e cuidar. Imagine essas mentes brilhantes diagnosticando uma variação do influenza H1N1.
Cedo ou tarde, a humanidade será dizimada. Ira de Deus? Não, mas o cumprimento de sua Palavra no abrir dos selos, no tocar das trombetas e no derramamento das taças do Apocalipse que, certamente, tragarão primeiramente os desfavorecidos.
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