Teu caso é muito grave:
você acredita piamente na existência de um ser superior. Acredita que, soprando no pó, Deus criou Adão, e que a primeira clonagem foi quando tirou de sua costela
uma mulher.
Acredita que, dentro de um barquinho sem-vergonha, uma família acompanhada de casais de vários espécimes animais venceu incólume a maior tempestade que já houve.
Você crê que choveu fogo que a uma cidade inteira consumiu, e que uma mulher foi transformada em estátua de sal. Ah, e que não só fogo já desceu do céu, mas também
pão e pedra, certo?
O mar se abriu e o povo passou, não uma, mas duas vezes. Você acredita de verdade que Deus fez muralhas caírem ao som de instrumentos musicais e um bando de despreparados derrotar exércitos.
Com o segredo de sua força nos cabelos, um homem matou centenas de inimigos e tornou-se juiz de seu povo, tal qual um pastorzinho de ovelhas que, matando um gigante,
tornou-se rei.
Explique como a terra parou, ou como voltou sua rotação 15 graus sem que se tenha registro dos terríveis cataclismos que esses eventos deveriam ter gerado. Como o metal emergiu? E como estéreis pariram sem auxílio biotecnológico?
Também tem aquelas histórias em que um homem foi para o céu em uma alucinante carruagem de fogo, e os
super-homens que, lançados às chamas de forno, sobreviveram, ou aquela outra em que o lançado aos leões com esses dividiu abrigo.
Você acredita numas paradas muito loucas e, não satisfeito, além de crer num Deus que é todo poderoso e que criou todas as coisas só pelo poder da sua palavra, mas que, é claro, ninguém pode ver, afirma que ele gerou um filho numa virgem. Essa é boa! Talvez a melhor. Então o homem nasceu de Deus, mas Deus também nasceu do homem, e esse tal Filho de Deus transformou água em vinho, fez corpos pútridos tornarem à vida, cegos tornarem a ver e coxos a andar e saltar. Ele tirou a maior onda e andou sobre as águas do mar, mandou e a tempestade acalmou e, por duas vezes, multiplicou pão e peixe para uma multidão. Para piorar a tua situação, você acredita piamente que com a sua morte, o Filho de Deus dá vida aos homens. E tem mais: você bebe do seu sangue, come da sua carne, e crê que seu sangue é o único que, em vez de sujar, limpa.
Esse Filho de Deus é de tudo: ele é porta, é caminho, é água viva, é a verdade é a própria vida, e quem olha para ele está olhando para o tal Deus que ninguém consegue ver, porque ele é homem, mas é Deus também.
Por fim, doideira geral, você acredita que ele não morreu. Quer dizer, morreu, sim, mas ressuscitou, reina no Céu ao lado de seu Pai e vai voltar para – ouçam esta! – buscar uma noiva que tem mais de 2000 anos de idade, mas não tem nem rugas, nem manchas e nem mácula.
Meu amigo maluquinho, faça a si mesmo um favor:
continue louco. A cura mata.
"Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. [...] Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que creem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens." ICo. 1.18 a 25.
Marcelo Belchior – 1999