sábado, julho 11, 2009

Morrerás e não viverás

Os sonhos de Deus para o homem
Alguns ditos populares do evangeliquês nosso de cada dia são catastróficos não exatamente pela agressão de seus absurdos exegéticos, mas pela ampla aceitação que conquistam no coração e na mente dos incautos. Um desses ditos, que facilmente viram adesivos de pára-brisas, é: “Não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim seus sonhos”.
É verdade que ninguém há que possa impedir as ações de Deus ou mesmo coibir suas intenções, e, nisto, estão corretos os que com brados vitoriosos lançam mão desta frase.
O problema é que facilmente os ditos sonhos de Deus são distorcidos em sonhos e anseios exclusivos do mesquinho coração humano, montando-lhe uma potencial bomba de desânimo, desequilíbrio e morte acionada por frustrações desencadeadas por desejos e metas que jamais se cumprirão.
Muito dificilmente esse dito é levado a púlpito deixando-se bem claro que também esses tais sonhos de Deus possam ser completamente adversos aos nossos. Deus também diz não, e é possível que entre seus desejos esteja também o desejo de morte.
Para a teologia de mercado, na qual tudo sempre vai dar certo segundo nossos desígnios, um personagem áureo é Ezequias, o afamado rei de Judá que, adoecido, ouve do Senhor que morrerá e não viverá. A teologia por trás do “não morrerei...” exalta o rei Ezequias por causa de sua ‘bem sucedida’ oração que fez com que Deus lhe acrescentasse 15 anos de vida.
Ezequias é um marco na linhagem real de Judá. Antes somente o Rei Davi, depois nenhum outro pôde ser a ele comparado em termos de fidelidade e relacionamento com Deus. Ocorre, no entanto, que Ezequias poderia ser muito maior do que é, e nisto mesmo consistia o desejo de Deus para sua história – a coroação de uma vida que andou diante dele em verdade e com coração perfeito, fazendo o que era bom aos seus olhos.
Ferindo de morte o rei, Deus desejou isolá-lo historicamente de uma linhagem imunda, cuja fidelidade e compromisso com ele eram mais instáveis que as relações com reinos vizinhos. Como não tinha filhos, Ezequias seria esquecido na linha de sucessão. Morreria e não viveria, portanto.
O rei não foi capaz de entender o sonho de Deus para si, porque era sonho de morte. O tempo voltou 40 minutos, mas Berodaque-Baladã pôs os olhos nas riquezas do templo, e Manasses nasceu para cobrir de vergonha o nome e as obras de seu pai.
Morrerás e não viverás – contudo, um outro rei disse sim.
Mesmo diante da grande agonia que lhe fora proposta, o Rei de todos os reis aceitou os sonhos de Deus: “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.” Eis o verdadeiro exemplo a ser seguido, a antítese da enaltecida gafe de Ezequias cada vez mais execrável pela teologia do triunfalismo.
Sim! Que realizem-se em nós os sonhos de Deus, mas que também perseveremos nisso ainda que sejam sonhos de naufrágios, prisões e martírio. Que verdadeiramente não morramos enquanto não se cumpram seus desígnios, mesmo que sejam adversos aos nossos, e ainda que sejam exatamente desígnios de morte. Quando estivermos na situação do rei Ezequias, que também nos voltemos contra a parede, mas que digamos a ele que não seja feito o que nós queremos, mas o que ele quer.

“O nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz” Salmo 115. 3

quarta-feira, julho 01, 2009

João Hélio



Eu também sou pai. Eu lembro!

A videira não mente

Fábio Teixeira - www.menteiluminada.blogspot.com
Jesus é a videira verdadeira. Não de fato uma videira, porém, ele mesmo ilustra nossa dependência dele como os galhos e frutos dependentes da seiva da árvore para sobreviver. Assim, plantados nele, por meio da graça, viveremos sustentados em seu amor.
Ele é a videira verdadeira. Acontece que outros seres evocam para si prerrogativas que são próprias da videira verdadeira. Igrejas, pastores e afins dizem, sem que digam, mas às vezes dizendo, que sem eles não há salvação. Dizem com sua teologia, estranhamente possuidora de Deus, coisas assim: "fora da igreja evangélica não há salvação; sem a cobertura pastoral não há vida com Deus; sem ser membro de alguma igreja não se é membro do Corpo; sem se estar nas rodas evangélicas, se está na roda dos escarnecedores; sem ouvir música evangélica não se adora a Deus; sem apóstolos não há avivamento; sem os ministérios não há ministério; sem títulos não há crescimento espiritual; sem levitas não há musica santa; sem os crentes não há Jesus". Há outras coisas ditas, como estas, que fazem da igreja uma videirinha falsa, geradora de videirinhas falsificadas, já que as coberturas espirituais, os discipuladores, os pais na fé e afins se veêm, e são vistos, como geradores das vidas que “ganham” e que, rapidamente, viram seus ramos e que, em gerando ramos, são ramos dos ramos. Cria-se, assim, bonsais da fé, cujo fundamento é a dependência no outro.
Pessoas são tratadas como possessão de líderes, bens espirituais, metas alcançadas, resultados pessoais. Geralmente, isso resulta em corações despedaçados a longo prazo. Você conhece alguém que um dia se descobriu oprimido, mesmo tendo certeza que era livre? Infelizes sorridentes. Cheios de belos discursos, mas com pouca vida de fato. Pouca seiva da Videira. São videirinhas plantadas em vasos eclesiásticos enfeitando as salas da dominação. São troféus ministeriais levantados quando necessário, mas na maior parte do tempo empoeirados.
Fica aqui o meu grito, que não é meu: Só há uma Videira. Nela fomos plantados.
O Pai nos limpou, e nos limpa por sua Palavra. Nada, nem ninguém, é videira.
Não quero ser videira. Meu papel é de ramo.
Conviver com os irmãos é bom demais; reunirmo-nos para adorar a Deus e estudarmos a Palavra é bom demais; cumprir, cada um, sua função no serviço de Cristo, em amor, é bom demais; orar, estudar, visitar, ensinar, aprender, tocar, levantar as mãos, dar as mãos e afins, é tudo muito bom demais. Tornar-se videira é mentir.
Que cada um, diariamente e em amor, beba e coma da seiva vida que flui na Videira Verdadeira.
No amor de Quem nos ensina que o fruto é o amor, e frutificar é amar.
Saúde e Paz.